Samsara é isso aí – 24/03/2020
Era 1976. Eu era um jovem imberbe de 18 anos, pedindo carona de Mashad, no nordeste do Irã, para Teerã. Naquela tarde, tinha dado sorte: um caminhão com um grande container parou para mim. De repente, encontrei-me sentado num assento luxuoso de uma cabine com ar-condicionado. Senti-me tão bem, um upgrade nos solavancos das caminhonetes e lambretas. Eu me acostumaria com aquilo, mas bem tarde, naquela noite, enquanto atravessávamos uma cadeia de montanhas, o motorista parou no acostamento. Ele insistiu que passássemos a noite juntos na cama atrás dos assentos. Quando recusei, ele tentou me agredir. Depois de uma luta, eu abri a porta e pulei para fora. Praguejando, ele veio atrás de mim, mas eu me escondi longe dali, nas árvores. Ele foi embora com raiva, me deixando no escuro e no frio.
Comecei a caminhar ao longo da estrada para me manter aquecido. Depois de cerca de um quilômetro, cheguei a um restaurante. Andei em volta procurando uma janela aberta, mas não havia nenhuma. Então percebi um grande tapete persa apoiado contra uma parede externa. Tive uma ideia. Eu desenrolei o tapete no chão e me deitei sobre ele. Segurei uma ponta dele e rolei e rolei. Fiz um ninho aquecido e aconchegante e logo adormeci.
Cedo na manhã seguinte, eu estava na estrada de novo. Passavam poucos veículos por lá e eu não estava otimista. Mas o segundo carro parou. Era uma família. Um momento depois, estava compartilhando o café da manhã com três doces crianças. “Ah!”, pensei comigo: “um final feliz para uma noite sombria”. E então, não mais que dez quilômetros descendo as montanhas, o carro quebrou. Foi sério e levaria horas antes que a ajuda chegasse. Com relutância, despedi-me deles e comecei a caminhar montanha abaixo.
“Bem”, pensei comigo, “realmente não se pode tomar nada como garantido”
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