O peso das coisas – 03/04/2021
Desde criança, sou fascinado por fotografias registrando a passagem do tempo. Amava observar processos naturais não observáveis a olho nu desdobrando-se em uma tela — graciosamente, magicamente — ao longo de alguns minutos. Esses curtas me encorajavam a questionar a aparente solidez do mundo em que vivia.
À luz de tais vídeos, acho que pode ser dito que a diferença entre uma coisa e um evento está meramente em sua taxa de mudança. Quanto mais tempo algo leva para mudar visivelmente, mais ela parece ser uma “coisa” (Talvez pudéssemos adicionar uma nova definição aos nossos dicionários: “coisa – uma mudança lenta”). Uma montanha é uma coisa muito sólida. Mas se houvesse a tecnologia, poderíamos, provavelmente, produzir um vídeo gravando o surgimento de toda uma cadeia de montanhas, sua erosão e eventual desaparecimento com a duração de algumas respirações humanas.
Refletir sobre este tópico pode ser libertador ou assustador. Pode ser assustador se nos percebemos como uma coisa sólida e solitária à deriva em um mundo inseguro e não sólido. Mas pode ser libertador quando percebemos que nós também não somos sólidos. Até mesmo o desejo por algo sólido para se agarrar não é sólido. Nosso refúgio está em saber.
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