Além do gostar e do não gostar — 03/08/2021

No mundo moderno, com sua ênfase na autonomia pessoal, os gostos e aversões das pessoas ganharam uma importância sem precedentes. Hoje em dia, muitas pessoas definem quem são em termos de gostos e aversões. Na verdade, esse sempre foi o caso até certo ponto. Em seu primeiro discurso, o Buddha referiu-se ao sofrimento que vem com a separação do que se gosta e com a associação com o que não se gosta. Vendo o mundo exageradamente pelas lentes do que gostamos, do que não gostamos e daquilo que não nos importamos, estreitamos e empobrecemos nossas mentes. A ganância se alimenta do gostar, a aversão se alimenta do não gostar, enquanto o embotamento e a insensibilidade crescem com a indiferença. 

Mas as coisas de que gostamos, não gostamos e aquelas a que somos indiferentes mudam. E se elas mudam, como poderiam ser realmente quem somos? Mesmo no caso de gostos, aversões e indiferença permanentes, a observação atenta produz resultados interessantes. Observe, momento a momento, as sensações que surgem enquanto, por exemplo, apreciamos algo de que gostamos — digamos, comer nossa comida favorita. Se olharmos sem preconceitos poderemos notar muito mais sensações neutras do que esperávamos, e talvez até alguns momentos de sensações desagradáveis. A correlação entre gostar e sentir prazer não é tão direta. Ideias de gosto, aversão e indiferença podem mascarar e distorcer nossa experiência de vida. Cultivar o interesse, a curiosidade, a paixão de olhar profundamente dentro de nós no momento presente é o caminho do Buddha.

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