Raiva virtuosa? — 21/08/2021

A acusação falsa geralmente leva à mágoa e indignação. Mas, numa ocasião, o Buddha apontou para seus discípulos que se eles ficassem com raiva ou chateados com pessoas que criticavam injustamente o Buddha, o Dhamma ou a Sangha, eles estariam criando dificuldades desnecessárias para si mesmos. Ele perguntou, se caso sentissem raiva, seriam capazes de apontar clara e objetivamente em que pontos os ataques eram injustificados. Os monges admitiram que não. O Buddha disse que, com mentes calmas, eles deveriam “esclarecer o que é falso e apontar aquilo como falso”, dizendo: “Por tal motivo, isso é falso, não é verdadeiro, tal coisa não existe em nós, tal coisa não se encontra entre nós”. 

Uma ideia cultural popular no ocidente sustenta que a raiva pode, em certas circunstâncias —ao enfrentar a injustiça, por exemplo— ser virtuosa. Tornou-se lugar comum acreditar que, em tais casos, as únicas alternativas à raiva seriam a indiferença ou o desespero. 

Mas, para uma visão budista, permitir que a raiva entre na mente é como permitir que um fogo seja aceso no solo de uma floresta seca. Ela engolfa a mente e distorce o julgamento. A raiva torna a mente míope e grosseira, incapaz de perceber as sutilezas e complexidades das situações. Ela cria demônios dos oponentes, enquanto justifica as próprias faltas. A raiva pode muito bem fornecer motivação, mas é a motivação dos tolos e, em última análise, não resolve nada.

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