Nosso tempo juntos e a sabedoria – Ajahn Jayasāro 02/08/2022
Era maio de 1984. Eu olhava para os verdes vívidos dos campos ingleses da parte de trás do carro dos meus pais. Depois de seis anos fora, eu vim visitá-los pela primeira vez como monge, e estávamos voltando para a casa da família. A certa altura, contei-lhes uma história engraçada. Eles riram e eu pude ver os ombros tensos do meu pai relaxarem: “pelo menos”, ele disse, meio que para si mesmo: “ele não perdeu o senso de humor”. Percebi que aquele tinha sido um de seus maiores medos.
Comecei a me lembrar de quanta dor causei aos meus pais na adolescência por causa do comprimento do meu cabelo e das roupas que eu usava. Parecia tão ridículo agora, e tão irônico. Senti uma profunda pontada de remorso. Naquele momento, por alguma estranha sincronicidade, minha mãe falou do banco da frente. Ela disse que nunca sonhou, enquanto eu crescia, que teríamos tão pouco tempo juntos. Se ela soubesse, ela nunca teria perdido o precioso tempo ficando chateada com o comprimento do meu cabelo e com a maneira como eu me vestia. A melancolia na sua voz deu um nó na minha garganta.
Estávamos compartilhando a sabedoria da retrospectiva, e eu sabia que aquela não era uma sabedoria libertadora. Este tipo de sabedoria vem através de um treinamento sistemático. É somente abrindo nossos olhos repetidamente para a impermanência e imprevisibilidade da vida, que adquirimos a sabedoria que nos permite fazer o melhor uso possível do nosso curto tempo juntos neste mundo.
Comentários
Postar um comentário