O tempo é precioso - 05/08/2023
Quando criança, eu sofria de asma. Durante uma crise de asma, cada inspiração era como escalar uma encosta rochosa íngrime até o topo de uma montanha. Cada expiração era como um deslize rápido - acabando rápido demais - para o vale abaixo. As subidas pareciam infinitas, himalaias. As descidas, uma mera trégua temporária.
Eu me refugiei nos livros. Meu primeiro amor foi os mitos e lendas do mundo antigo, começando com os da Grécia e da Índia. Livros eram meus amigos mais queridos. Eles estavam sempre ao meu lado quando eu precisava deles. Quando criança, eu nunca almejei a riqueza material. Mas eu cultivava um sonho: que quando adulto, um dia, eu seria dono de uma estante de livros.
Hoje, no meu eremitério, há uma bela estante de livros de madeira com portas de vidro, um presente generoso. O ano passado marcou o seu vigésimo aniversário. Eu a examinei de perto. Quantos livros que estavam nela eu havia lido, quantos outros esperavam ser abertos? Quantos desses livros eu lia todo ano? Foi então que percebi que mesmo que eu viva até os cem anos, mesmo que aumente drasticamente o tempo que uso para ler todo dia, no dia da minha morte, muitos desses livros permanecerão não lidos.
Atualmente, minha estante de livros não é apenas o lar de amigos velhos e em potencial. Ela é um lembrete constante da minha morte inevitável. Uma morte, como qualquer outra, com livros não lidos, conhecimento não obtido, coisas não resolvidas. Não acho isso deprimente. Pelo contrário, isso me energiza. O tempo é precioso. Os únicos finais felizes verdadeiros são encontrados aqui dentro. Faça bom uso das respirações restantes.
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