O câncer da dúvida - 23/09/2023

 

Por muito tempo, a culpa do aumento acentuado nos casos de câncer de pulmão durante o século XX foi atribuída às fumaças dos exaustores de veículos. Então, em 1954, o trabalho de Doll e Hill, dois cientistas britânicos, revelou que fumantes tinham probabilidade dezesseis vezes maior de desenvolver câncer de pulmão do que não-fumantes.

A resposta das companhias de fumo foi esperta. Elas tentaram confundir as pessoas. Elas questionaram a pesquisa; questionaram os pesquisadores; pediram mais pesquisas. O objetivo não era convencer fumantes de que fumar era seguro, mas criar dúvidas nas evidências de que não era seguro. Elas queriam que os fumantes se tornassem apáticos e ficassem no status quo: "Alguns especialistas dizem isso, outros dizem aquilo. Sei lá eu." Um memorando interno secreto lembrava executivos sêniores de que "a dúvida é o nosso produto".

A dúvida certamente é uma força poderosa. Na prática do Dhamma, nós observamos como ela surge na mente, qual é a sensação dela, o que a alimenta, o que a enfraquece e como ela acaba. Nós a vemos como um fenômeno condicionado. Não nos identificamos com ela.

É importante estar ciente de como as impurezas mentais tentam turvar as águas. Observe como elas podem adotar a postura aparentemente razoável e racional de um executivo da companhia de fumo: "Será que você realmente consegue encontrar um fim do sofrimento? O que lhe dá tanta certeza? A evidência não é tão clara quanto você parece pensar. Não seja tão precipitado ao abandonar abrir mão dos prazeres do samsāra." Etc.

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