Doces manhãs num mosteiro – 20/04/2024
Por muitos anos, fui monge sênior em Wat Pah Nanachat. Toda manhã de Wan Phra (Uposatha) por volta das 11h, eu caminhava até a área da cozinha do mosteiro. Era onde muitos aldeões mais velhos passavam o dia. No fim da manhã, alguns estariam lendo, outros varrendo folhas. Alguns poderiam estar mascando noz de betel, outros tirando uma soneca, e uns poucos estariam meditando. Quando as senhoras sênior viam que eu me aproximava, pediam para que um dos homens encontrasse uma cadeira para mim, enquanto me ofereciam um suco de frutas frescas recém espremidas que elas haviam preparado. Todos punham de lado o que estavam fazendo e se juntavam em volta.
Haveria algum ensinamento do Dhamma, mas era essencialmente um tempo pra conversa informal. Eu falava pra eles algumas coisas que tinham acontecido no mosteiro na última semana, e eles me atualizavam sobre coisas acontecendo no mundo deles. Eu conhecia a maioria daquelas pessoas desde a minha ordenação, e a atmosfera era calorosa e informal. Era um momento juntos que todos apreciávamos, e contrastava com os protocolos do salão de Dhamma. Os aldeões sempre se comportavam impecavelmente com os monges, mas eles os viam como uma família estendida. Algumas vezes, eles riam indulgentemente do comportamento ou personalidade de um monge júnior. Havia mesmo um pouco de provocação. Um homem mais velho poderia dizer: "Sua voz é muito suave! Você não poderia falar um pouco mais alto? Por favor, tenha compaixão pelos velhos camaradas". Todo mundo ria. E eu responderia: "Quando seus ouvidos eram bons, tudo que você queria ouvir era música. Só agora que seus ouvidos estão arruinados, é que você vem para as palestras do Dhamma. Por que que o erro é meu?" Todo mundo ria.
Antes de vir pra Tailândia, esse era um lado da vida monástica que eu nunca sonhei. E mesmo hoje, tendo se passado anos, tornou-se uma de suas partes mais doces.
Sutilezas do cotidiano que alimentam a alma. Beleza em poder ler.
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