A educação monástica e o trato com o inesperado - 04/05/2024

 

Minha educação monástica incentivou a prontidão para a adaptação ao inesperado e a flexibilidade dentro dos limites dos preceitos. Em 1982, Ajahn Chah enviou uma grande delegação de monges, incluindo eu mesmo, para uma parte remota de uma província vizinha. Nossa tarefa era construir uma pira crematória para um velho amigo seu, cujo corpo havia sido preservado por um ano em sinal de grande respeito.

Na noite anterior à cremação, centenas de leigos budistas participava do programa noturno de cânticos e discursos do Dhamma. O caixão do velho monge foi colocado de forma proeminente em uma plataforma elevada abaixo da estátua do Buddha. Chegou o momento de o corpo ser removido daquele pesado caixão de madeira para um caixão mais frágil, adequado para uma cremação ao ar livre. Houve uma pequena pausa enquanto a tampa do caixão era removida. Descobriu-se que os responsáveis por proteger o corpo da deterioração cometeram um erro terrível. Eles o tinham coberto com pó de cimento. Agora o corpo estava envolto em concreto. Seguiu-se uma conferência silenciosa e, em pouco tempo, alguns dos monges mais jovens e mais musculosos apareceram com picaretas e começaram a lascar o concreto. Os leigos sentaram-se com os olhos baixos enquanto uma corrente se formava e pedaços de concreto eram passados ​​para fora. Toda a bizarra operação foi conduzida em silêncio com uma eficiência e reverência difíceis de se imaginar. Finalmente, o trabalho foi concluído e o corpo foi transferido com segurança. Os monges recolocaram suas vestes externas e todos nós nos curvamos ao grande mestre. Tudo continuou como se nada de incomum tivesse acontecido. No dia seguinte, o funeral foi acompanhado por mais de mil pessoas. Foi uma experiência comovente e edificante para todos.


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