Hábitos arraigados também são impermanentes - 22/10/2024

Quando eu estava começando meu treinamento monástico, há mais de quarenta anos, fiquei inspirado pela atitude de um dos monges sêniores ocidentais. Não importava quanta ou quão pouca aptidão ele tinha para uma tarefa, ele não desistia até que obtivesse êxito. Apesar de não ter facilidade com idiomas, ele se dedicou tão diligentemente a aprender tailandês que, por fim, dava palestras de Dhamma aos aldeões locais que foram elogiadas pelo próprio Ajahn Chah.

Esse monge tinha uma formação científica. Ele era visto como frio e antipático (cold fish) e, às vezes, sua fala podia ser bastante ríspida ou contundente. Os feedbacks que recebeu por conta disso fizeram com que ele decidisse se dedicar à meditação de mettā. Eu estive fora naquele ano, e numa curta visita fiquei consternado com o novo comportamento daquele monge. De repente, ele tinha desenvolvido um jeito sorridente e artificial de falar que me parecia completamente falso. Fui embora sem me impressionar, pensando que preferia o "frio e antipático". Mas alguns meses mais tarde, voltei numa outra visita e fiquei maravilhado. O comportamento do monge tinha um novo calor e bondade que pareciam totalmente genuínos e que permaneceram com ele ao longo dos anos seguintes.

Nós tendemos a nos identificar fortemente com as características de nossas personalidades. Pode ser tanto preocupante quanto inspirador ver o quanto daquilo que nos consideramos ser não passar de uma rede de hábitos. Eu sinto gratidão até hoje por esse monge ter me ensinado uma lição valiosa: com sinceridade e aplicação constante de esforço, até mesmo os hábitos mais arraigados podem ser abandonados.      

 

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