Ambiguidades enriquecedoras - 30/11/2024
No meu primeiro ano como monge, passei alguns meses em um dos pequenos mosteiros afiliados a Ajahn Chah no interior de Ubon. Havia um grupo de noviços adolescentes no mosteiro naquela época e eles me davam uma boa oportunidade de praticar a paciência (ou pelo menos assim eu me encorajava). Certo dia, infelizmente, minha paciência inevitavelmente desmoronou e, numa caminhada com o abade, reclamei com ele. Eu disse que o meu entendimento de nosso papel como monges da floresta era que deveríamos ser um bom exemplo aos apoiadores leigos de como ter presença mental (sati) e cuidar da floresta. Nos últimos dias, eu disse, os noviços estão jogando lixo na floresta em volta do Salão de Dhamma sem nenhuma preocupação com o meio ambiente. É um comportamento feio e negligente e um mau exemplo aos moradores locais. O abade me ouviu com atenção e concordou com tudo o que eu disse. Então, depois de uma pausa, ele pegou uma bala para tosse de sua sacola, colocou-a em sua boca e deixou o papel cair no chão. Eu não disse nada e seguimos caminhando.
Mais de quarenta anos se passaram. Hoje, o abade é um dos mais inspiradores discípulos vivos de Ajahn Chah. Sinto uma grande afeição e respeito por ele. Mas nunca lhe perguntei se naquele dia ele jogou o papel da bala no caminho da floresta como um ensinamento de Dhamma para mim. Sempre tive 95% de certeza de que sim. Mas há uma dúvida que persiste. Nunca tive certeza absoluta. E, ao longo dos anos, descobri que gosto que seja assim.
Comentários
Postar um comentário